Quanto mais avançamos nestas histórias mais comprovamos que os arcos narrativos aumentam consideravelmente de tamanho. Após curtas introduções, fica a sensação de que Nobuhiro Watsuki quer levar Kenshin e seus companheiros mais longe, através de narrativas mais amplas e densas, uma decisão acertada. Neste terceiro tomo temos, pela primeira vez, um volume inteiro dedicado ao mesmo arco narrativo, um que será concluindo ainda no próximo volume (já disponível nas bancas com edição da Devir).
Após terem salvo Takani Megumi, Kenshin e Sanosuke continuam a mantê-la sobre protecção até perceberem o que realmente se está a passar entre esta mulher e a rede de tráfico de ópio, cujo grande monopólio se encontra nas mãos do ganancioso Takeda Kanryu. Kanryu surge-nos como um típico vilão de grandes posses monetárias, ou seja, ostentando uma personalidade que não está habituada a ser contrariada, antes a ter sempre tudo aquilo que quer, pagando a tudo e todos. Não é de admirar, por isso, que tenha desenvolvido uma atitude infantil perante os outros, e que tenha em seu controle um enorme exército de soldados, sempre prontos a disparar primeiro e fazer perguntas depois. Dentro deste grupo de mercenários, nos quais se contam membros da Yakuza, existe um em particular que sobressai, o grupo de espiões Oniwaban, composto por ninjas de elite cuja missão no passado era proteger a casa do Xogum e dos Daimyo (senhores feudais). Após o início desta nova era Meiji, este grupo de ninjas respeitado parece ter cedido à mesma tentação de outros samurais já aqui expostos, unindo o prazer pelo combate a um bom ordenado. Mesmo assim existe alguma estranheza em ter membros tão ilustres como estes espiões ao serviço de uma figura tão sem escrúpulos como Takeda Kanryu.
No volume anterior já tínhamos sido apresentados a um membro dos Oniwaban, o pequeno mas matreiro Beshimi. Desta vez somos apresentados a mais três: Hyottoko, Hannha e o líder Shinomori Aoshi. Os dois últimos surgem como duas personagens enigmáticas muito bem construídas, emanando uma aura distinta dos restantes. Após esta leitura queremos continuar a saber mais sobre eles, até porque Aoshi e Hannha poderão vir a provar-se os desafios maiores de Battousai, até ao momento. Por outro lado, Hyottoko surge como uma personagem deslocada, nunca convencendo como ninja, deixando antes o sentimento de que deveria ter sido guardado para uma outra história, para um outro grupo.
Em relação aos heróis continua a provar-se que a adição de Sanosuke ao grupo foi uma mais-valia. Além de Kenshin ter ganho um braço direito, a forma distinta como ambos defendem os bons valores é sempre interessante. Sano tem o coração no sítio certo, mas por vezes ainda beneficia da maturidade do seu amigo, para não se apressar em julgamentos. Kaoru e Yahiko podem manter-se mais afastados da frente de combate, porém são sempre duas grandes forças emotivas e humorísticas na série. A história sem eles não seria a mesma e desprezar a sua participação seria um erro, algo que Nobuhiro Watsuki sabe bem. Em adição, continuamos a ter notas do autor sobre a criação de algumas destas personagens, o que é sempre interessante para os apreciadores deste universo. No final há ainda mais uma história extra, numa versão mais antiga de Kenshin que eventualmente deu origem a este arco do ópio. É curioso ver estes pequenos apontamentos sobre a origem de Kenshin e comparar com as histórias que hoje conhecemos.
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