“Para se falar de um escritor como José Saramago, tem de se smoar à realidade o imaginário“. Quem o diz é Inês Fonseca Santos em “José Saramago: Homem-Rio” (Pato Lógico/INCM, 2016), mais um volume da colecção Grandes Vidas Portuguesas, editada em parceria pela Pato Lógico e a Imprensa Nacional – Casa da Moeda, que tem como objectivo levar o seguinte lema aos mais jovens: “Portugal de ontem, de hoje e de sempre, através das vidas de quem o fez grande“.
E quem melhor para falar de José Saramago com uma verve poética do que Inês Fonseca Santos, que começa desde logo por descrever o escritor português como “um rio cheio de afluentes e, por isso, um rio que, mesmo quando se encontra com o oceano, continua a ser um rio, um rio que nunca perde o seu curso, nunca confunde as suas águas, nunca se perde.”
Inês conta-nos a história de um Saramago por equívoco – a partir de uma alcunha que chamavam ao pai e que julgavam ser o seu nome verdadeiro -, levando-nos a entrar na “pobríssima morada” dos avós maternos, lugar onde tiveram início “todos os seus caminhos, todos os seus desvios, todos os seus espantos, todas as suas transformações“. José Saramago que, no momento de receber o Nobel da Literatura, não se esqueceu de regressar à infância e ao seu avô, ele que foi sempre alguém que sentiu “a ferida de viver num país onde as pessoas tinham medo e andavam de boca fechada“.
As ilustrações de João Maio Pinto são um cruzamento feliz entre a pop art e o território da ficção científica, fazendo deste um dos mais interessantes livros da colecção em termos visuais.
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