Com este quinto volume, a G. Gloy encerra este policial hard-boiled com laivos lovecraftianos da autoria de Ed Brubaker e Sean Phillips. Cinco volumes em torno da história de Josephine – a derradeira femme fatale – provaram ser um número mais do que suficiente para explorar esta mitologia, sem cairmos em qualquer tipo de desgaste ou desmotivação. E que não restem dúvidas: “Fatale” sempre foi, acima de todas as outras personagens, a história de Josephine, a mulher condenada por demónios de outro mundo a percorrer esta Terra, imortal e irresistível, duas características tão desejadas por muitos e tão amaldiçoadas por aqueles que realmente as possuem.
Para esta narrativa, Brubaker e Phillips teceram uma estrutura narrativa muito particular e construtiva, de forma a explorar o passado desta personagem, ao mesmo tempo que nos mantêm sempre ligados ao seu presente. Nos volumes anteriores visitámos Josephine em diferentes alturas da sua vida, percorrendo algumas décadas distintas na História dos Estados Unidos, desde os mafiosos anos 50, passando pelo glamour de uma Hollywood nos anos 70 e pelos fenómenos musicais rebeldes dos 90 – evocando o movimento grunge numa Seattle pós-Kurt Cobain. Em paralelo a estas histórias íamos sempre observando a interacção e efeito que Jospehine teve em Nicolas Lash, a nossa personagem âncora no presente. Apenas no terceiro volume (a marcar o meio da saga) os autores colocaram a história principal em pausa para nos trazerem quatro curtas sobre a mitologia desta maldição da Femme Fatale – Josephine não foi a primeira mulher a encarnar este poder, provavelmente nem será a última.
À medida que avançávamos no tempo era claro que este último volume estaria reservado para desenvolver e concluir a história que vínhamos a assistir aos poucos entre Nicolas e Josephine, uma conclusão que se provou mais ampla ainda pois, em “Amaldiçoa o Demónio”, não vamos apenas encontrar as respostas que vínhamos procurando, mas a solução para todo este ciclo de morte e sofrimento.
Sean Phillips continua a impregnar estas vinhetas de elementos esotéricos, trabalhando para criar um ambiente tanto místico como erótico, sempre com a qualidade que já nos vinha a habituar e sempre muito bem apoiado pelas cores de Elizabeth Breitweiser, as quais se tornaram essenciais para definir este “Fatale”. Neste volume final Phillips ainda nos brinda com algumas das suas pranchas mais memoráveis, ao abandonar um lado mais terreno para entrar num mais espiritual, sem quaisquer restrições. Chegados ao final não podemos deixar de gabar o planeamento de Ed Brubaker. A forma como todas as peças do seu puzzle se foram encaixando ao longo de cada prancha ganha, neste volume final, o reconhecimento merecido. Para aqueles que tiverem saudades mal terminem de ler a última página, vale a pena lembrar que a G. Floy já publicou também “Velvet”, da sua autoria.
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