Muitos são os livros que, no domínio da ficção científica, se têm divertido a brincar com as viagens no tempo, e a forma como estas poderão alterar irremediavelmente o passado – um pouco ao estilo de Regresso ao Futuro. Em tempos recentes, porém, poucos livros chegarão aos calcanhares de “As primeiras quinze vidas de Harry August” (Saída de Emergência, 2016), o primeiro romance de ficção científica assinado por Claire North.
Comecemos exactamente por Clare North, também ela fruto de um passado que não esconde alguma ficção científica. Claire North é na verdade um dos dois pseudónimos de Catherine Webb, uma autora britânica nascida em 1986. Estudou História na London School os Economics e Teatro na RADA. “Mirror Dreams” foi o seu primeiro livro a ver a luz da edição, tinha então 14 anos, ganhando comparações a nomes como Terry Pratchett ou Philip Pullman. Desde então, Webb publicou mais sete romances, contando com duas nomeações para a medalha Carnegie. Sob o pseudónimo de Kate Griffin, publicou seis obras de fantasia. “As primeiras quinze vidas de Harry August”, já com o pseudónimo de Claire North, foi publicado em 2014 no Reino Unido e, desde então, a autora lançou também”Touch” e “The Sudden Appearance of Hope” – e por aqui cruzamos os dedos para que a Saída de Emergência publique igualmente estes títulos.
Harry August é fruto de uma violação mais ou menos consentida pelo medo, tendo sido criado por pais adoptivos em troca do silêncio e do pagamento de uma renda. Tudo isto antes de perceber que era diferente das outras pessoas: “A minha primeira vida, ainda que desprovida de propósito, foi de certa forma feliz, se aceitarmos que a ignorância pode equivaler à felicidade e a solidão é apenas o que nos separa dos cuidados de alguém“.
Sempre que morre, Harry August regressa ao dia em que nasceu para viver a mesma vida, mantendo todo o conhecimento adquirido nas vidas anteriores. Porém, a aprendizagem e o desejo de conhecimento surgirão apenas mais tarde, procurando primeiramente o sentido da vida na religião e, de seguida, na ciência, após uma desastrada tentativa no amor. Será no campo da ciência que Harry irá correr perigo de vida, a partir do momento que vê entrar na sua vida o ancestral Clube Cronus, que defende que os kalachakras, aqueles que podem viajar no tempo atrás de vidas consecutivas, devem operar pelo silêncio, descrição e pela decisão firme de não afectarem o ciclo natural do tempo.
Vincent Rankis, porém, tem uma outra ideia. Para este estudante, cuja vida se irá cruzar com a do professor Harry August, fará sentido aproveitar esta capacidade de agir como semi-deuses para tornar o mundo um lugar melhor, mesmo que do futuro cheguem mensagens de que o fim do mundo se aproxima. Duas visões diferentes que farão de Harry e Vincent inimigos mortais, ambos buscando uma forma de terminar com o poder de renascimento que ambos possuem.
Cativante, frenético e com uma escrita de primeira água, “As primeiras 15 vidas de Harry August” explora de forma incrível o desejo de operar mudanças sobre o curso do tempo, não deixando de oferecer um twist final que é verdadeiramente um primor. Mora aqui o livro de ficção científica do ano com edição portuguesa.
1 Commentário
Gostei excessivamente desse livro. A narrativa a questão de viagem no tempo. Me encantou demais tanto que já deu vontade de ler outra vez. muito bem construído