Na canção “O Gigante“, incluída no EP que dá a conhecer os “5 Monstros” que se escondem debaixo da cama do Tio Rex, canta-se desta forma o destino final que todos nós partilhamos:
Um gigante deu à costa
O povo parou a ver
Depois de algumas derrotas
Chega a hora de morrer
Correu oceano e meio
Decidiu partir sozinho
Traz uma vida às costas
Sabe de cor o caminho
Escrito a duas mãos por Carmen Chica e Manuel Marsol – que assina também as ilustrações – “O Tempo do Gigante” (Orfeu Negro, 2015) é a história de uma travessia em grande formato, com desenhos a página dupla carregados de cor, nuvens e muita melancolia, ao qual não escapa, igualmente, essa ideia de vertigem final, questionando-se continuamente o caminho que até lá nos leva.
A história é-nos contada por um gigante solitário e com alma de poeta, que vai repetindo como uma ladainha o mesmo lamento existencial: “Hoje não aconteceu nada. Nem hoje. E hoje também não. Será sempre assim?”
Há poesia visual e literária, formas que se escondem nas nuvens, num livro muito belo sobre a passagem do tempo, o fundo da memória e todas as pequenas coisas que vão acontecendo à nossa sem que nelas reparemos. E que, a partir da ideia de que se estivermos à espera de que as coisas aconteçam por si a vida se vai num sopro, nos impele a tornarmo-nos gigantes na forma de olhar o mundo, apreciando cada instante da nossa breve travessia.
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