“O Astrágalo” | Albertine Sarrazin

Astrágalo: osso que articula a tíbia com o calcânio (osso do calcanhar). Podemos começar assim, por definir o sentido da palavra que intitula esta obra de Albertine Sarrazin, agora publicada em Portugal pela Antígona – embora originalmente publicada em França no ano de 1965. Tudo começa com a fuga da prisão de Anne, protagonista da história, durante a qual parte uma pata. É isso mesmo, pata, expressão premonitória do estilo e natureza da retórica, utilizada ao longo da narrativa pela autora sempre que alude à mobilidade condicionada pela fractura e longa recuperação de um dos seus membros inferiores. A partir deste episódio sucedem-se relatos de fugas, esconderijos, angustias, compromissos e lealdades, uns mais prováveis que outros mas, sempre, de procura de liberdade sentido. Não a liberdade sem grades, mas fundamentalmente a liberdade de sentir, de querer para além do confortável e expectável, do pertencer a um lugar e a alguém. A procura de uma liberdade aprisionada pela ânsia de viver que impede Anne de valorizar a proteção de Ginette e Eddie, que asseguraram os mais elementares aspetos da sua existência, acolhendo-a e alimentando-a quando estava fisicamente dependente, ou de Nini e Pierre, sem esquecer Annie, todos declinados por lhe toldarem … Continue reading “O Astrágalo” | Albertine Sarrazin