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“Amigos do Peito” | Cláudio Thebas e Violeta Lópiz

Por Andreia Rasga · Em 25/11/2014

Em tempos passados, as crianças brincavam na rua, faziam dos vizinhos os amigos de todas as aventuras e percorriam o bairro onde moravam quase de olhos fechados, desvendando-lhe todos os segredos.

“Amigos do Peito” (Bruaá, 2014) recupera as vivências de um bairro pelo olhar de uma criança, recordando como tudo o que nos rodeia, dia a dia, merece ser observado, de vez em quando, com minúcia, detalhando as cores das casas, as formas das ruas, o cheiro das árvores, o som dos carros e, especialmente, os rostos dos outros que connosco partilham aquele cenário.

Pela mão de um menino, página a página, visitamos um bairro como qualquer outro e conhecemos as gentes daquele lugar. Entre a menina da esquina e o dono do bar, entre o vizinho do sétimo andar e o do prédio em frente, deambulamos pelas moradas partilhando “olá’s” e “tudo bem?”. Por ali, naquela visita, encontramos ruas que lembram aquelas que percorremos todos os dias. Por ali, encontramos prédios, portas, telhados e varandas semelhantes a tudo o que enche de cor o bairro onde moramos. Por ali, conhecemos homens, mulheres, crianças e animais que em tudo nos lembram as pessoas que se cruzam connosco, nos passeios e nas lojas, em dias normais, como este.

Num texto rimado, o brasileiro Cláudio Thebas fala-nos do bairro daquele menino como se falasse do nosso, daquele onde brincámos em crianças ou daquele onde hoje habitamos. Nascido em São Paulo, em 1964, Cláudio Thebas é escritor, músico e palhaço, dando ainda aulas de arte e criatividade a crianças em escolas, centros culturais, bibliotecas e livrarias. Os textos do autor foram já musicados por artistas brasileiros de renome, como Chico César e Zeca Baleiro, entre outros, transformando-se em divertidos espetáculos para crianças.

Cláudio Thebas defende que «existem duas literaturas: a feita para `todo mundo´, e aí estão incluídas as crianças, e a para adultos, com uma linguagem que a criança não conseguiria entender. Eu acho que o livro infantil é para todo mundo, também para os pais.»

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A edição portuguesa da Bruaá é particularmente bela graças às ilustrações de Violeta Lópiz. O convite da Bruaá para ilustrar o texto de Cláudio Thebas fez com que a ilustradora, natural da ilha espanhola de Ibiza, se mudasse temporariamente para Lisboa e lesse, vezes sem conta, o poema. Assim, a ilustradora confrontou-se com duas buscas: «metade do tempo estive a decifrar o que dizia o texto de Cláudio, a outra metade a entender o que queria eu contar.» Aos poucos, Violeta compôs um complexo quebra-cabeças cujas peças eram «encontrar a ideia, a coerência com o texto, o estilo, o conteúdo, a técnica, a sequência das páginas, a intenção, os personagens, os tamanhos, a composição, as relações com o texto e a localização do próprio texto.»

Violeta Lópiz desvenda alguns pormenores sobre o caminho que percorreu até chegar ao traço que queria para este livro: «Para este projeto eu queria explorar a relação entre lugares e pessoas, arquitetura e sentimentos, mapas mentais, lugares no corpo, na mente, na rua, as memórias que vivem nos lugares e os lugares que vivem na memória.» Então a ilustradora entrou «na arquitetura e no mapeamento, recolheu casas, telhados, chaminés, telhas, lojas, paredes, janelas, praças, mercados e rotas. Estava disposta a fazer duas coisas que não dominava: desenhar edifícios e pintar com marcadores.»

Rascunhos e rascunhos depois, pesquisas e deambulações, pensamentos e sentimentos à mistura, Violeta Lópiz chegou aonde queria: «Depois de toda a aprendizagem e de muita exploração há a escolha de um caminho que, no meu caso, funciona como um sinal. O sinal é ser surpreendida por uma ilustração que eu gosto na altura e de que contino a gostar após vários dias. Uma vez encontrada, essa ilustração orienta o resto do trabalho.»

Um disco acompanhou todo o tempo que Violeta Lópiz passou a ilustrar “Amigos do Peito”: o álbum “Cantigas de Maio”, de José Afonso, oferecido pelo editor da Bruaá à chegada a Lisboa. A par da música, Violeta inspirou-se no vento que ouviu em Lisboa, nas ruas molhadas da cidade e até no sabor do cozido à portuguesa, para viver e percorrer os bairros de todos nós e abraçar, com marcadores, amigos de sempre.

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Andreia Rasga

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