Algures na Flórida, o impacto de um meteorito deixou uma área envolta num estranho e cintilante campo de forças, que se expande lentamente. Ali se formou um microclima tingido de estranheza, onde as regras da natureza, distorcidas, ganham estranhos cambiantes.
Várias expedições são enviadas para explorar o fenómeno, e todas desaparecem sem deixar rasto. O único a regressar de uma dessas viagens é Kane (Oscar Isaac), um militar das forças especiais que, após estar desaparecido durante um ano, surge em casa desorientado e com a saúde a decair aceleradamente.
Em busca de uma explicação, a mulher de Kane, a bióloga Lena (Natalie Portman), voluntaria-se para a próxima expedição, acompanhando outras quatro mulheres: liderando a equipa, a Dra. Vendress (Jennifer Jason Leigh), psicóloga, visivelmente afectada pelos sucessivos fracassos das expedições anteriores; a médica Anya (Gina Rodriguez), a cientista Josie (Tessa Thompson) e a antropóloga Cass (Tuva Nuvotny).
Quando as mulheres se embrenham na curiosa bolha de sabão gigante, descobrem um mundo povoado de criaturas obscuras e gelatinosas – um mundo de beleza e horror, que guarda demónios na penumbra, onde fauna e flora se comportam de forma bizarra e excessiva – flores diferentes nascem de um mesmo ramo, as suas cores berrando, iridescentes, e animais surgem duplicados como ecos perfeitos.
“Annihilation” é o segundo filme do britânico Alex Garland – sucede à sua auspiciosa estreia de 2015, “Ex-machina”, filme aclamado pela crítica e pelo público – que se volta a aventurar numa história de ficção científic, que joga noutra divisão: o orçamento total de “Annihilation” ultrapassou os 55 milhões de dólares. Trata-se de uma adaptação livre de um romance de culto do americano Jeff Vandermeer, que ainda escreveu mais dois tomos neste universo: “Autoridade” e “Aceitação”. Quer isto dizer que o filme pode tornar-se no primeiro de uma franchise? Nem pensar, já disse o realizador, que não está minimamente interessado em prosseguir a história.
É uma fita com um ritmo muito próprio, alheia às dinâmicas habituais que perpassam os blockbusters, para mais quando se trata de filmes com extra-terrestres. A premissa parece saída de um vulgar filme de soldados vs aliens, mas a abordagem escolhida por Garland é menos Predador e mais Tarkovsky, menos fogo-de-artifício e mais tensão e estranheza. A acção desenrola-se com uma solenidade assombrada e, ainda que os diálogos sejam algo rígidos e as personagens apenas esboços sem particular profundidade, o efeito geral do filme é fabuloso – um festim visual que se acentua até ao rolar dos créditos.
“Annihilation” é um inteligente filme de ficção científica. Por vezes contaminado pelo mais arrepiante terror, é também um drama metafísico e existencial – o tipo de filme que nos deixa com um formigueiro à flor da pele. É ainda a prova de que o sucesso de “Ex-Machina” não foi um acidente, antes pelo contrário: “Annihilation” confirma Alex Garland como um dos mais interessantes realizadores da actualidade.
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